Estudo da UFLA aponta caminhos para acelerar a adoção de tecnologias digitais no campo

Sensores remotos, deep learning, Internet das Coisas, criptografia, inteligência artificial – essas e muitas outras tecnologias têm potencial para transformar a produção no campo e colaborar para que o aumento da oferta mundial de alimentos ocorra de forma competitiva e sustentável. Entretanto, segundo uma pesquisa desenvolvida pelo Centro de Estudos em Mercados e Tecnologia no Agronegócio da Universidade Federal de Lavras (Agritech UFLA), essas inovações de maior complexidade ainda não são amplamente adotadas pelos produtores, mas há ações que podem ajudar a acelerar esse processo.

O estudo buscou identificar o que move os produtores que já são considerados inovadores e, a partir daí, usar essas informações para ajudar a compor um ambiente que estimule ainda mais a adoção de tecnologias digitais no campo. A equipe de pesquisadores do Agritech UFLA entrevistou cafeicultores da Cooperativa Mista Agropecuária de Paraguaçu (Coomap) que estão nessa classificação, ou seja, que já utilizam algumas dessas tecnologias em suas propriedades. 

Uma análise qualitativa das respostas de 14 produtores mostrou como eles percebem os atributos de inovação propostos pelo sociólogo e teórico da Comunicação estadunidense Everett Rogers. Esses atributos são: as vantagens relativas das tecnologias (benefícios que a inovação oferece em comparação com as opções existentes), a compatibilidade (com outros produtos e serviços já utilizados), a complexidade (facilidade com que a inovação pode ser entendida e adotada), a experimentação (possibilidade de experimentar a inovação em pequena escala para estar mais seguro dos resultados) e a observação (facilidade com que os resultados podem ser vistos e compartilhados). 

Os resultados revelaram que os produtores consideram como vantagens a eficiência operacional das tecnologias, o acesso à informação, a comodidade e a segurança. Sobre o atributo “compatibilidade”, para eles é importante que a tecnologia atenda às necessidades operacionais e aos valores pessoais. Um dos produtores entrevistados, por exemplo, destaca o prazer que sente em trabalhar no campo, e a tecnologia oferece uma comodidade que reforça esse sentimento. “(…) essa tecnologia me dá mais agilidade, mais, vamos falar assim, se eu não tivesse a ajuda destas tecnologias, talvez eu não conseguisse gerenciar a metade do que eu faço hoje, se eu tivesse que estar in loco direto, entendeu? Então eu acho que a conexão dessa tecnologia com o prazer é isso que eu consigo. É gerenciamento melhor, não é?”, avalia.

Quanto ao atributo “complexidade”, há quem tenha postura curiosa perante os desafios de utilização das tecnologias, e há quem apresente ansiedade em relação a possíveis dificuldades, entendendo os desafios como ameaças. Já a “experimentação” e a “observação” apareceram, para esse grupo de produtores, como etapas essenciais na redução de incertezas para adoção das inovações.

De acordo com o mestre e pesquisador Thacyo Bruno Custódio de Morais, a adoção de tecnologias digitais pelos produtores apresenta caráter gradual. “As soluções de baixa complexidade, como internet e conexão sem fio, GPS e mapas digitais, alcançam ampla difusão. Já aquelas de complexidade intermediária, como sensores remotos, eletrônica embarcada e automação, são adotadas de forma parcial, enquanto as de alta complexidade são utilizadas apenas ocasionalmente. É o caso de inteligência artificial, deep learning e Internet das Coisas, computação em nuvem, big data, blockchain e criptografia”, detalha Thacyo. 

A pesquisa mostrou ainda que as principais formas pelas quais os produtores inovadores têm acesso a informações sobre tecnologias digitais são os canais de comunicação institucionais, plataformas digitais e redes interpessoais. O coordenador do Agritech UFLA, professor Paulo Henrique Leme, ressalta que apesar do interesse em inovação, os agricultores ainda enfrentam barreiras como conectividade de internet limitada, escassez de mão de obra qualificada e insegurança. “Nosso objetivo, com os estudos em adoção de tecnologias digitais, é reunir informações úteis que subsidiem a inovação no campo, permitindo que instiuições, empresas e atores envolvidos no processo de inovação tenham uma direção para agir sobre as barreiras e as oportunidades de novos caminhos a seguir”, comenta. 

Caminhos para expandir a adoção de inovações

A partir dos resultados, os pesquisadores estruturam um roteiro de ações que devem ser adotadas, de forma coordenada, por diferentes atores, para estimular a adoção de tecnologias digitais no campo. O foco das ações é reduzir as barreiras de adoção, aumentar a confiança e viabilizar a transformação digital de forma gradual e integrada.

  • Cooperativas e órgãos de extensão devem priorizar a divulgação clara de informações, demonstrações práticas, governança colaborativa e programas de alfabetização digital. A comunicação deve ser segmentada por nível educacional, experiência tecnológica e perfil de mercado.
  • Empresas fornecedoras de tecnologia devem criar soluções modulares e escaláveis, oferecer pilotos colaborativos com suporte contínuo, disseminar informações em múltiplos canais e garantir treinamento e suporte pós-venda para reduzir a complexidade percebida.
  • Universidades e instituições de pesquisa precisam aproximar-se das necessidades dos produtores, usando estudos de caso reais, desenvolvendo materiais didáticos adaptados e promovendo eventos como hackathons e jornadas de inovação para fortalecer redes de confiança.
  • Produtores rurais devem engajar-se em redes de troca, planejar pilotos em pequena escala, documentar resultados e investir em capacitação contínua.
  • Políticas públicas devem ampliar a conectividade rural, incentivar a capacitação técnica, oferecer incentivos fiscais e crédito,e garantir um ambiente regulatório seguro para o uso de dados digitais.

A equipe do estudo

Com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), o estudo intitulado “O produtor do futuro: tecnologias digitais e atributos percebidos de inovação” é liderado pelos professores do Departamento de Administração e Economia (DAE), Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FCSA), Paulo Henrique Leme, Elisa Cozadi e Gustavo Nunes Maciel, pelo mestrando do Programa de Pós-Graduação em Administração Thacyo Bruno Custódio de Morais, as mestrandas Lady Oviedo, Jéssica Helvécio e Andressa Paviani, com participação também da equipe do Agritech UFLA. 

O estudo  integra um programa mais amplo de inovação ao qual a UFLA e o Agritech UFLA pertencem – o projeto Semear Digital (Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), realizado em conjunto com Embrapa Agricultura Digital e outras instituições, que trabalha a conectividade no campo como forma de levar inovações para pequenos e médios agricultores”, explica o professor Paulo Henrique..

Leia o artigo publicado em 2024 pela equipe a respeito da temática.

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